quarta-feira, 24 de março de 2010

O amor comeu.




O amor comeu meu nome,
minha identidade,
meu retrato
O amor comeu minha certidão de idade,
minha genealogia,
meu endereço
O amor comeu meus cartões de visita,
o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome
O amor comeu minhas roupas,
meus lenços e minhas camisas,
O amor comeu metros e metros de gravatas
O amor comeu a medida de meus ternos,
o número de meus sapatos,
o tamanho de meus chapéus
O amor comeu minha altura,
meu peso,
a cor de meus olhos
e de meus cabelos
O amor comeu minha paz e minha guerra,
meu dia e minha noite,
meu inverno
e meu verão
Comeu meu silêncio,
minha dor de cabeça

meu medo da morte.